quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Eu posso colar


Teve uma época em minha vida, onde fui morar por uns meses, na casa dos meus avós. Certo dia, um velho relógio que ficava na sala despencou e se quebrou no chão em vários pedaços. Lembro que minha avó olhou bem para os cacos daquele enorme relógio de madeira, e disse que ele não tinha mais jeito. Meu avô foi buscar a vassoura e a pá do lixo para limpar, e eu olhei bem pra ele, dizendo: " Vô, eu posso colar! ". E meu avô era um sujeito que gostava de estimular as habilidades e acreditar nos talentos dos netos; se eu disse que podia colar, ele acreditava. Logo chegou com os pedaços e um tubo de cola, e disse: "Pode começar".

Coloquei os pedaços em cima da mesa, e comecei a localizar os cacos e tentar o encaixe, como um enorme quebra-cabeça. Demorei muitos dias para colar tudo, quase uma semana inteira. Meu avô só olhava, e de vez em quando chegava em mim e dizia: "E aí, vai demorar muito? Eu quero ver a hora no relógio da sala!". Mas sempre deixava escapar aquele sorriso provocativo, de saber que eu ia conseguir colar. Ele sempre soube que tinha um neto insistente e determinado.

Até que ele olhou em cima da mesa, e viu que tudo estava colado, pecinha por pecinha, com certas rachaduras se olhado bem de perto. Então, meu avô me perguntou se poderia colocar no lugar, e eu disse que ainda não, pois deveria deixar a cola secar bem, para que ficasse firme e não quebrasse mais. Dias depois, fomos juntos colocar no lugar, e lá estava, o relógio que durou mais anos e anos, funcionando, firme e forte. E todos os dias em que eu olhava para aquele relógio, eu lembrava do esforço que eu fiz para que aquele velho relógio estivesse lá, pendurado na parede, informando as horas, no seu sonoro tic/tac.

Eu sempre acreditei no conserto, na melhora, na mudança, no crescimento, e na constante atualização. Desde pequeno, acredito que para tudo existe um jeito, e não devemos desistir de nada, antes de tentar fazer, por mais difícil que pareça. Procurar ter carinho, consideração e amor, pelas pessoas, pelos animais, pelos objetos. E futuramente ter como retorno o prazer de ver as coisas funcionando, perfeitamente, como funcionavam antigamente!

"Eu posso colar...todos nós podemos!". E eu continuo colando!




1 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o post, eu esses dias colei com meu filho um brinquedo q quebrou, e ele voltou a brincar e a ter momentos felizes com o brinquedo...
Adelaide

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